O Mercado Público de Porto Alegre é um dos meus lugares preferidos não só no centro histórico, como na cidade inteira. Vale a visita não só pela história, como também pelos produtos que as bancas oferecem e pela variedade de locais para comer (e comer bem). E o pior é que muitos turistas que vêm até o Rio Grande Sul não chegam a conhecer esse ícone de Porto Alegre. A cidade, que não tem muito apelo turístico, acaba, em muitas das vezes, servindo apenas de ponto de chegada para quem vai à Serra Gaúcha.
Mas, não se enganem, a capital dos gaúchos vai bem além do aeroporto.
Coisas de portoalegrense
Antes de falar do Mercado Público, deixa eu contar uma curiosidade sobre os portoalegrenses.
Vim do interior do Rio Grande do Sul para Porto Alegre com 18 anos. Morava em uma cidade relativamente pequena, onde qualquer mercado, grande ou pequeno, era chamado de “mercado”. Mas, quando cheguei aqui, tive uma revelação linguística.
Pra começar, para o portoalegrense, as palavras e os nomes são sempre reduzidos: Porto Alegre é “Porto”, chimarrão é “chimas”, churrasco é “churras”, a tradicional Avenida Osvaldo Aranha é a “Osvaldo”, e por aí vai. Então já sabe: se pegar um táxi e não quiser parecer perdido, nunca diga o nome completo da rua.
Assim, no “portoalegrês”, diferente do que eu ouvi a durante toda a vida no interior, um mercado grande não se chama “mercado” (como eu chamava), e sim “super” (redução de “supermercado”). E foi depois de várias confusões nas conversas que aprendi que, quando eu falava em “mercado” por aqui, as pessoas entendiam que se tratava do Mercado Público de Porto Alegre. E não do supermercado perto de casa.
Mas vamos voltar ao objeto do post.
O Mercado Público
Patrimônio Histórico e Cultural da cidade, inaugurado em 1869, o Mercado oferece meio de tudo. Tem desde restaurantes clássicos até loja de artigos religiosos, passando por fruteiras, peixarias, padarias. Tem até loja online, pra quem quiser fazer compras lá, mas não quer encarar a muvuca do centro de Porto Alegre.
O Mercado já sobreviveu a alguns perrengues. Por exemplo, foi “vítima” histórica enchente de 1941, a maior ocorrida na cidade, quando o Guaíba subiu quase cinco metros e deixou desabrigados cerca de 70 mil habitantes. A enchente deu ensejo à construção do Muro da Mauá, que faz parte do Sistema de Proteção Contra Cheias (junto com 68 Km de diques, 14 comportas e 19 casas de bombas).
Além disso, na década de 70, foi ameaçado de demolição para a construção de uma avenida. E, por fim, também sofreu com incêndios, em 1912, 1976 e 1979. O último ocorreu em 2013, quando foi atingido por um incêndio de grandes proporções, causado por uma fritadeira esquecida ligada durante a noite, em um dos restaurantes do segundo piso. Até hoje, o Mercado aguarda o término da restauração, que segue a passos lentos. Então, não estranhem se parte do piso superior do prédio ainda estiver interditada e coberta por uma lona preta.
Atualização em 2018: a restauração continua em andamento, e o segundo piso do Mercado continua parcialmente interditado. Parte do restauro está sendo bancada pela associação dos permissionários, para agilizar a reabertura da parte interditada. Os permissionários cujas lojas foram atingidas pelo incêndio seguem alojados em uma praça de alimentação improvisada no piso inferior. A prefeitura alega que não possui recursos para finalizar a obra.
Compras no Mercado Público
As bancas para compras ficam no piso térreo do Mercado, e vendem de um tudo. Mas, pra você não ficar muito perdido, aqui vai uma listinha daquelas onde a gente costuma comprar. Todas podem ser encontradas ingressando pela entrada da Avenida Borges de Medeiros (a “Borges”, em portoalegrês):
Empório Banca 38
A banca vende queijos, embutidos, frutas secas, bacalhau, especiarias, produtos importados e vinhos. Aliás, é aqui que a gente encontra vinhos muito bons e que geralmente custam mais barato que nas lojas de vinhos da cidade.
Banca do Holandês
Esta banca vende também queijos, embutidos, frutas secas, bacalhau, produtos importados e especiarias. É no Holandês que geralmente compramos bacalhau. Os preços não mudam muito de uma banca pra outra, mas vale pechinchar.
Banca 43
Mais uma banca que vende queijos, embutidos, especiarias e produtos importados. A variedade, qualidade e preço dos produtos é muito parecida com as bancas 38 e do Holandês.
Flora Hana Noka
A banca vende artigos religiosos, chás, ervas e especiarias. Aliás, sempre que preciso de algum tempero diferente, procuro aqui.
Onde comer no Mercado Público
O Mercado tem comida para todos os gostos e todos os bolsos. Praticamente todos os restaurantes servem pratos do dia, bem servidos e a preços bem honestos. E tem listinha também dos lugares que a gente mais gosta.
Padaria Pão de Açúcar
A padaria tem um dos melhores sanduíches “Farroupilha” que eu já comi por aí. O “Farroupilha” é um lanche tradicional por aqui, feito com pão francês, queijo e presunto, prensado ou não na chapa. Além do sanduíche, experimente uma das cucas da casa, que são uma delícia.
Se estiver pelo centro no início da manhã, chegue na Pão de Açúcar, passe no caixa, faça seu pedido e pague. Depois, peça o seu pedido no balcão, sentado num banquinho alto, enquanto acompanha o vai-e-vem do pessoal pelo centro da cidade.
Banca 40
A Banca 40 é um clássico na cidade. Recentemente, a banca abriu uma unidade na Rua Padre Chagas – mas a clássica é a do Mercado Público. Eles têm uns sanduíches deliciosos, além de sucos e saladas de frutas. No inverno, a banca serve um buffet de sopas, super gostoso.
Mas tão classicos quanto a casa são os sorvetes da casa. A taça mais tradicional, a Bomba Royal, foi criada na época da 1ª Grande Guerra. Nessa época, os clientes pediam que fossem misturados todos os ingredientes disponíveis na loja. Assim, nasceu a taça com salada de frutas, nata batida e três bolas de sorvete a sua escolha. O resultado é essa belezinha aí da foto (a do meio).
Mas, se você for mais “comedido”, pode pedir uma simples taça de salada de frutas com sorvete, que também é uma delícia.
Gambrinus
É o restaurante mais antigo de Porto Alegre, fundado há quase 130 anos. A decoração do lugar é, literalmente, uma viagem no tempo. Tem pratos variados, mas a especialidade da casa são os pratos com bacalhau (o bolinho deles é famoso!).
Naval
O Restaurante Bar Chopp Naval é um poquinho mais novo que o Gambrinus, mas não muito: afinal, já são 111 anos de vida. O Naval foi um importante reduto boêmio da cidade, sendo ponto de encontro de músicos importantes, como Lupicínio Rodrigues. Lupe escreveu muitas de suas composições sentadinho lá nas mesas do Naval.
O local também era frequentado por políticos gaúchos, como Getúlio Vargas e Leonel Brizola, bem como intelectuais e jornalistas. Dentre os mais conhecidos, está o jornalista Glênio Peres, que, inclusive, dá nome ao largo em frente ao Mercado.
Mesmo o Gambrinus sendo muito bom, o Naval é o meu preferido em termos de comida. O bolinho de bacalhau é delicioso e os pratos são muito bem servidos.
Além disso, tem chopes bem tirados. Aliás, o lugar é historicamente famoso pelos chopes.
Temakeria Japesca
O Japesca foi quem definitvamente popularizou a comida japonesa na cidade. Sushis, sashimis e temakis a preços bem razoáveis, além de sempre terem várias promoções. Os sushis são bons, apesar de não serem os meus preferidos. Mas os temakis são bem gostosos.
A loja do Mercado é pequeninha, mas há uma unidade maior, ali perto, na Rua Siqueira Campos.
E, se estiver a procura de pescados para comprar, considere a Peixaria Japesca, que funciona no Mercado Público desde 1980. Nunca fiz uma comparação entre os preços dela e das outras peixarias do Mercado, mas gosto da Japesca pela qualidade dos produtos e pela organização da peixaria.
Sushi Seninha
O Seninha serve sushis muito bons, e mais sofisticados que o Japesca. Obviamente, custa bem mais caro. Mas, se o preço não for problema, eu escolheria o Seninha.
Restaurante Mamma Julia
Pelo nome pode não parecer, mas o Mamma Julia é especializado em frutos do mar. Experimente a tainha na telha: tainha inteira assada, recheada com camarão, servida em uma telha de cerâmica. O restaurante é famoso também pelos petiscos.
Bar Chopp 26
O Bar Chopp 26 serve variados tipos de comida, com pratos do dia, a preços bem honestos. A dica aqui é do Cadu, que trabalha no centro e é assíduo frequentador do Mercado Público: experimente o arroz carreteiro.
Tanto ele, quanto o Mamma Julia, foram atingidos pelo incêndio de 2013 e estão funcionando naquela praça de alimentação improvisada no piso térreo.
Café do Mercado
A marca de cafés é bem conhecida, e o lugar é bom para aquele cafezinho pós-almoço. Na loja em frente, você pode adquirir os cafés por peso.
Mas, se estiver com tempo, vá até o Café Santo de Casa, na Casa de Cultura Mario Quintana, que fica na Rua dos Andradas. Apesar de ser um pouquinho distante do Mercado, o local vale a pequena caminhada, principalmente se o dia estiver bonito. Conto mais sobre ele aqui nesse outro post.
O Mercado Público de Porto Alegre tem inúmeras outras opções para compras e alimentação, e o legal é perambular por lá e experimentar o que mais te chamar a atenção. Mas as dicas acima são de lugares que habitualmente frequentamos, pra dar aquela ajudinha na hora de escolher.
O mapa das bancas e dos restaurantes você encontra aqui.
O Mercado fica no quarteirão formado pela Av. Borges de Medeiros, pela Av. Júlio de Castilhos, pelo Largo Glênio Peres e pela Praça Parobé. Pra chegar lá é facílimo, já que o lugar é mais ou menos o “centro do centro”: boa parte das linhas de ônibus e lotações tem seu ponto final/inicial ali ou por perto. E pra quem vem da região metropolitana, a estação do trem em frente, na Av. Júlio de Castilhos.
O horário de funcionamento é de segunda a sexta, das 7h30 às 19h30, e nos sábados, das 7h30 às 18h30.
E você, conhece o Mercado Público? Se tiver alguma dica pra dar pra gente, joga ali nos comentários!
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