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“Traçando Roma”: os relatos atemporais de Luis Fernando Veríssimo sobre a vida em Roma

Passeando pela Feira do Livro aqui em Porto Alegre (evento super tradicional e um dos meus preferidos na cidade), fuçando em todos os “saldos”, encontrei o “Traçando Roma”, do Luis Fernando Verissimo. É um livro com relatos do escritor sobre a vida em Roma. Comprei e li inteirinho no mesmo dia.

Ué, mas vai falar de livros? Não era sobre viagem e gastronomia?

Pois é. Deixa eu explicar então.

Acho que eu ainda não tinha contado isso aqui, mas eu tenho mais uma paixão, além de viagens e comida: livros. Leio quase tudo que me aparece pela frente. Meu sonho é ter uma daquelas bibliotecas em casa em que todas as paredes são forradas de prateleiras, com uma escadinha para subir até as mais altas.

Por isso, percebi que não podia deixar os meus queridos livros de fora do blog. Ainda mais quando tem tanto livro legal sobre viagens, ou com viagens como pano de fundo.

Por isso, vez ou outra, sempre que eu ler alguma coisa interessante, vou indicar aqui pra vocês. Especialmente guias e relatos de viagem, ou livros sobre gastronomia, pra não perder o tema do blog de vista.

Todos os livros são indicações espontâneas, conforme a política editorial aqui do blog.

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Mais sobre viagens e literatura: Conheça Londres de metrô com o guia do Rodrigo Rodrigues.

Roma, a cidade eterna. Mas eterna por quê?

Pelo menos uma vez na vida, acho que todo mundo já ouviu Roma ser chamada de “cidade eterna”. Mas nem todo mundo sabe exatamente o porquê. Eu mesma, que sempre me interessei muito pela história de Roma, só fui saber há pouco tempo atrás. Eu pensava que tinha a ver com as construções históricas, que resistem há mais de dois mil anos. Pois é por isso e não é bem por isso. É mais amplo que isso.

Ocorre que os antigos romanos acreditavam que a cidade continuaria a existir eternamente, independentemente do que acontecesse. E, por isso, a chamavam de “cidade eterna”. E então vieram reis, cônsules e imperadores. Vieram diversas guerras e o colapso de um grande império. Vieram novos governantes e novas guerras. E 2.771 anos depois (e contando…), a cidade continua lá. Imponente. Fantástica. Eterna.

E a vida em Roma também é assim: mesmo com o passar dos anos, a cidade continua no mesmo ritmo. Por isso, alguns relatos, mesmo antigos, continuam muito atuais. Como os do Luis Fernando Verissimo, no “Traçando Roma”.

O autor dispensa comentários: ele é super conhecido, principalmente pelos livros de crônicas, várias já reproduzidas pela televisão. O livro, por sua vez, é pequeno, de leitura fácil e rápida, mas muito gostosa. Como geralmente são os textos do Verissimo.

Mas segue rolando a tela pra ler um pouquinho mais sobre o livro.

 

A vida em Roma, por uma família brasileira

Em forma de crônicas, LFV conta o cotidiano – e os perrengues – da sua família, quando, em 1986, foram de “mala e cuia” passar uma temporada em Roma. Em seus textos, Verissimo retrata o cotidiano da capital italiana, fazendo um relato atemporal sobre a vida em Roma. Sobretudo contando as situações mais inusitadas pelas quais a família passou durante a temporada na Itália.

E digo atemporal não à toa. Muito embora as histórias se passem em 1986, quem já visitou Roma vai perceber que boa parte das situações ali relatadas poderia perfeitamente ser vivenciada nos dias atuais.

 

O trânsito romano

Em uma determinada passagem do livro, LFV conta que “não há lugar para estacionar em Roma e o resultado é que os romanos estacionam de qualquer maneira. Em cima da calçada, em fila dupla, em fila tripla, em qualquer brecha. No fim dá tudo certo, ou tão errado, que funciona”.

Agora deem uma olhada nessa foto, tirada em 2015, em alguma rua de Roma:

vida em Roma

 

Vai dizer: é ou não é atemporal?

E, no mesmo texto, o autor ainda conclui: “Afinal, toda grande cidade é ao mesmo tempo uma experiência do irracional e uma lição de convívio. Os romanos parecem ter inventado um novo conceito de urbanidade, o da irracionalidade levada ao extremo para melhor propiciar o convívio. E ninguém perde o bom humor”.

Depois, em outro texto, mais um pitada do humor que é tão peculiar ao autor:

“Mas falam também que às vezes sopra o Sirocco, um vento quente do norte da África, que chega com areia do deserto e deixa todos irritados. Penso nos motoristas de Roma atiçados pelo Sirocco e tenho a visão de um patamar do inferno, que Dante não conseguiu imaginar. […] Ganho destreza e impetuosidade e perco caráter e consideração ao próximo a cada nova saída no trânsito de Roma. Breve estarei dirigindo como um romano. Só me falta dominar a gesticulação. Eles conseguem fazer gestos que indicam indignação, dúvidas sobre a sua sanidade e certeza sobre o passado da sua mãe – e dirigir ao mesmo tempo.

Parece que eu estou vendo a cena…

 

Perrengues da vida em Roma, em 1986 (ou poderia ser hoje também…)

Há um outro relato interessante e divertido sobre a vida em Roma, quando Verissimo fala sobre o inverno na cidade e sobre como Roma “não se sente muito Roma no inverno”. Nele, LFV aponta um dos dramas dos viajantes de países tropicais para países em que há ocorrência de neve (e tanto faz se é na Roma de 1986, na de 2018, ou em qualquer outro lugar, em qualquer ano):

“Depois da nevada do ano passado, quando Roma parou, sem saber o que fazer e houve o caos, desta vez estão preparados. Só há meio caos. […] Ficamos sitiados no hotel, só saindo para rápidas incursões a tratorias ou sanduicherias da redondeza. O maior patrimônio do turista, ao contrário do que se pensa, não são os cheques de viagem, o passaporte ou a passagem de volta – são os sapatos. Depois de cada saída do hotel temos que voltar correndo para tirar os sapatos e colocá-los sobre o radiador de aquecimento para se recuperarem.

Poderia ser hoje, vai dizer?

 

Há coisas na Itália com as quais nem o progresso consegue acabar

Acho que a maioria das pessoas que já esteve na Itália passou por aquele momento em que precisou comprar alguma coisa, ou utilizar algum serviço, e encontrou tudo fechado, pois já passava do meio-dia. Atire a primeira pedra quem nunca teve que ficar fazendo hora até o comércio abrir. Na última vez em que estivemos na Itália, em 2015, a missão era comprar um saca-rolhas em Montepulciano, no início da tarde, mas simplesmente não havia um mísero tabacchi aberto (a tabacaria italiana). O jeito foi matar o tempo no tradicional Caffè Poliziano, o que também não foi qualquer sacrifício.

E lá na vida em Roma de 1986, Verissimo, contava que:

“Na itália tudo fecha ao meio-dia e só abre de novo às três e meia ou às quatro. Não sei se em Milão, que é a São Paulo italiana, é assim, mas em Roma a tradição é mantida, e é generalizada. […] Alguns negócios modernos, como grandes magazines, tentam subverter o hábito, mas com dificuldades. Um supermercado aqui perto de casa acaba de instituir o horário corrido, abre às 8:30 e só fecha às 19:30. Já sabemos que a melhor hora de frequentá-lo é justamente o período em que, pela tradição, deveria estar fechado. As poucas caixas de serviço têm cara de quem preferia estar em casa, mas não precisam trabalhar muito. Quase ninguém faz compras a estas horas, além de alguns brasileiros exóticos.”

Hoje em dia, em Roma, boa parte dos estabelecimentos já “subverteu” o hábito e fazem o horário comercial corrido, sem pausa para o almoço. Mas ainda há muitos que fecham para o almoço – e para a sesta, como vocês bem sabem. Há coisas na Itália que até mudam, mas sem mudar muito.

Mas e só tem perrengue?

Não! Junto com os perrengues e as situações curiosas, o livro também tem vários textos bem-humorados, com coisas bem interessantes relacionadas à cultura italiana e à vida em Roma naquela época. O Verissimo, assim como o pai dele (o Erico, meu primeiro escritor preferido) é um exímio observador. E, assim como o pai fazia nos livros dele, LFV capta tão bem os detalhes e os sentimentos em cada situação, que consegue te “transportar” para aquela vida em Roma. Vale muito a pena ler.

 

E onde eu encontro o “Traçando Roma”?

Como eu disse, o livro “Traçando Roma” é antigo (a minha edição é a 5ª, de 1999 – e eu acho que foi a última), portanto, muito provavelmente você não consiga encontrá-lo em grandes livrarias. Vai ser mais fácil achá-lo em sebos, ou em livrarias online (eu encontrei o meu em um estande na última Feira do Livro, aqui em Porto Alegre). Você pode adquirir o “Traçando Roma” clicando neste link.

Se você tiver lido algum outro livro bacana sobre viagens, conta pra gente!

E tem mais literatura de viagem aqui no blog, além de outras dicas sobre a Itália. Não deixe de ler!

 

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