Que eu gosto de viagem e gastronomia isso não é nenhuma novidade. Mas, além disso, eu também adoro cozinhar. E, nesta época de escassez de viagens, descobri que uma boa forma de viajar sem sair de casa é justamente cozinhando pratos típicos de outros lugares. Então, pra compartilhar algumas das minhas receitas preferidas, eu separei algumas dicas de comidas típicas bem fáceis de reproduzir em casa.
Dicas de comidas típicas para fazer em casa
Como eu disse antes, além de adorar de experimentar comidas típicas, eu gosto muito de cozinhar. Principalmente se for para reproduzir as receitas das minhas comidas típicas preferidas.
Cozinhar, em geral, já tem as suas vantagens: você, sem dúvida, economiza dinheiro e consegue comer melhor. E, além disso, cozinhar também ajuda a desestressar (o que, numa quarentena, é muito necessário). Mas preparar as receitas típicas que você mais gosta tem ainda mais uma vantagem: dá um prazer danado preparar um prato que, além dos aromas e sabores, traz lembranças das suas viagens por aí. Certamente, é uma ótima forma de viajar sem sair de casa. Ou melhor, da cozinha.
Na minha família, a comida italiana sempre fez parte da rotina. Então eu tenho uma familiaridade enorme com essa gastronomia. Mas, mesmo assim, estou sempre tentando me aprofundar mais, conhecendo melhor os pratos que eu gosto e descobrindo outras comidas e ingredientes típicos da Itália. Isso não só faz um bem danado para o meu estômago, como também traz diversas boas lembranças de um dos meus lugares preferidos no mundo.
O que define uma comida como típica?
São vários os motivos pelos quais uma comida pode ser considerada típica de algum lugar. Pra mim, o que define uma comida como típica é o fato de ela ser representativa desse lugar, seja pelos ingredientes que fazem parte da receita, seja pela relação que as pessoas daquele lugar têm com aquela comida.
A comida, para ser típica, precisa remeter ao lugar de onde se originou e, da mesma forma, as pessoas desse lugar precisam enxergar aquela comida como parte das suas tradições. Por exemplo, o ceviche peruano tem até um dia dedicado a ele, o Dia Nacional do Ceviche, celebrado em 28 de junho, criado para difundir o prato como símbolo nacional, tanto dentro quanto fora do Peru.
Além disso, desde 2004, o ceviche peruano é Patrimônio Cultural da Nação. Segundo Gastón Acurio, no seu livro Cebiche Power (um apanhado de 40 receitas de ceviche de todas as regiões do Peru), “não à toa é para nós muito mais que um alimento: é sinônimo da celebração do triunfo, do feliz encontro com os amigos, do consolo nas tristezas ou até de reconciliação e fraternidade”.
Por isso, um prato típico não é só um alimento, mas é também a representação de parte da cultura de um determinado lugar.
É possível fazer comidas típicas em casa?
Sempre é possível. Às vezes, fazer algumas comidas típicas em casa pode ser um pouco complicado em razão da falta de alguns ingredientes. Se você não mora em um grande centro, muitas vezes é difícil achar ingredientes específicos.
Aqui em Porto Alegre, por exemplo, às vezes eu tenho dificuldade de encontrar alguns ingredientes. E é tão frustrante quando quero experimentar uma receita nova e não encontro os ingredientes necessários. Porto Alegre não tem a fartura de São Paulo, que, pra mim, é quase o paraíso em termos de gastronomia. Mas geralmente eu consigo resolver o problema substituindo os ingredientes que não consigo encontrar por outros mais comuns.
Por isso, pra essa lista de dicas de comidas típicas, escolhi pratos que, em geral, são de fácil execução e com ingredientes que são facilmente encontrados em qualquer lugar.
Minhas 5 dicas de comidas típicas para fazer em casa
Bacalhau com natas
Eu tenho uma receita própria de bacalhau com natas, mas ela é meio “abrasileirada”, com ingredientes diferentes da receita típica de Portugal. Por isso, a receita que eu vou indicar aqui é da chef Pietra, do Pi&Mentas’ Cuisine, que foi aprender a fazer esse prato diretamente na fonte: durante uma viagem a Portugal, ela aproveitou para aprender algumas receitas típicas na casa de uma família portuguesa.
Ingredientes
- 400g de bacalhau desfiado
- 1Kg de batata inglesa
- 3 caixinhas de creme de leite
- 2 cebolas roxas pequenas
- 4 dentes de alho
- tempero verde
- queijo muçarela para gratinar (eu compro a mussarela em pedaço e depois ralo grosso – sai mais barato e eu acho que fica melhor pra gratinar)
- óleo vegetal
- sal, orégano e pimenta do reino a gosto
Modo de fazer
- Deixe o bacalhau de molho na água, dentro da geladeira, por cerca de três horas (eu geralmente compro o bacalhau em postas ou um pedaço do lombo; aí deixo de um dia para o outro, no mínimo, trocando a água umas 3 a 4 vezes, e desfio na hora de fazer o prato).
- Higienize as batatas e corte-as em cubos, sem descascar. Em uma forma com óleo, coloque as batatas e cubra com mais um pouco de óleo. Polvilhe sal sobre elas e leve para assar no forno já pré-aquecido em 200º, por cerca de 40 minutos.
- Escorra o bacalhau e ferva por cinco minutos, e depois reserve (é aqui que eu desfio o meu bacalhau).
- Em uma panela NÃO AQUECIDA, coloque o óleo e a cebola. Quando ela começar a dourar, junte o alho e, em seguida o bacalhau. Frite por 2 a 3 minutos e acrescente o creme de leite, desligando o fogo. Acerte o sal e junte o tempero verde a gosto.
- Em uma travessa, coloque as batatas assadas, o creme de bacalhau e polvilhe o queijo muçarela. Leve ao forno a 250º para gratinar.
Eu provei essa receita feita pela própria Pietra, em um dos workshops que ela costuma fazer na casa dela, aqui em Porto Alegre. Pena que a foto não tem cheiro nem sabor, mas eu garanto que ficou uma delícia!
Ceviche
Como eu não sou nenhuma chef de cozinha, não tenho uma receita própria de ceviche. Então, eu utilizo a receita de ceviche peruano clássico do livro Ceviche, do chef Martin Morales, nascido no Peru e radicado em Londres, onde é dono do restaurante que dá nome ao livro. Além disso, utilizo dicas de outros livros de comida peruana, como os vários do chef Gastón Acurio, ou o Lima – Cozinha Peruana Contemporânea, do chef Virgilio Martinez, que comanda o Central, na capital peruana.
Ingredientes
- 1 cebola roxa grande fatiada finamente, em meias-luas
- 600g de filé de robalo (ou outro peixe de carne branca e consistência média), sem escamas nem espinhas
- 1 porção de Leite de tigre
- folhas de coentro picadas finamente
- 1 ají limo sem sementes picado (ou pimenta dedo-de-moça)
- 1 batata-doce cozida, cortada em cubinhos
- sal marinho fino a gosto
Modo de preparo
- Lave as fatias de cebola e deixe de molho em água gelada por 5 minutos. Escorra as fatias e espalhe sobre papel-toalha ou pano de prato para retirar o excesso de água. Deixe as fatias e de cebola na geladeira até a hora de usá-las. Isso vai tirar a ardência da cebola, mantendo-a crocante.
- Corte o peixe em cubos, de mais ou menos 2cm x 2cm (o peixe incha um pouco depois de marinado). Coloque em uma tigela grande, adicione sal a gosto e misture com uma colher de metal. O sal ajuda a abrir os poros do peixe. Deixe descansar por dois minutos. Despeje o leite de tigre, incorporando com a colher. Deixe o peixe marinar por 2 minutos.
- Acrescente as fatias de cebola, o coentro, a pimenta e a batata-doce ao peixe, misturando delicadamente. Prove para ver se os temperos estão equilibrados (o sal do peixe, a ardência da pimenta e a acidez do limão). Distribua em pratos ou tigelas individuais e sirva imediatamente.
Dicas dos chefs:
Deixe o peixe na geladeira até a hora de usá-lo. E nunca deixe o peixe marinar por mais do que uns 2 minutos no leite de tigre antes de servir.
Não esprema demais o limão, pois, do contrário, você acaba espremendo junto aquela casca branca da fruta. E aí o seu líquido da marinada ficará amargo.
Receita do leite de tigre
Coloque 1 pedaço de 5mm gengibre fresco (cortado ao meio), 1 dente de alho pequeno (cortado ao meio), 4 ramos de coetro picados grosseiramente e o suco de oito limões em uma tigela, deixando em infusão por 5 minutos. Coe a mistura e adicione meia colher de chá de sal e duas colheres de chá de pasta de pimenta, misturando bem. Pode ser conservado na geladeira por até 4 horas.
Receita da pasta de pimenta
Coloque uma colher de sopa de óleo vegetal em uma panela de fundo grosso. Aqueça em fogo médio, acrescente 100g de pimenta (pode ser a dedo-de-moça, que é mais fácil de encontrar aqui no Brasil), picada grosseiramente, e meia cebola pequena bem picada. Refogue em fogo baixo por 10 minutos, mexendo.
Junte dois dentes de alho amassados e refogue por 5 minutos, até que tudo fique macio, mas sem dourar. Passe o conteúdo da panela em um processador até ficar homogêneo. Mantenha na geladeira.
Chivito
O chivito é um prato uruguaio muito simples, mas muito gostoso e fácil de fazer. Na verdade, nem dá pra dizer que é bem uma receita típica, porque envolve muito pouca técnica para fazê-lo. Mas já que a ideia aqui é indicar receitas fáceis de fazer em casa, poucas coisas são melhores que um belo sanduíche como o chivito.
E, pra saber exatamente como fazer o chivito, eu uso a receita do Hugo Soca, um dos chefs mais famosos no Uruguai, que está no livro de receitas dele, o Nuestras Recetas de Siempre. O livro é um compilado de receitas de comidas típicas bem tradicionais nas mesas das famílias uruguaias (eu trouxe o meu exemplar do Uruguai, mas não sei se é vendido aqui no Brasil).
Ingredientes para 4 chivitos
- 4 bifes de carne de gado (alcatra, filé, ou entrecot)
- 4 pães da sua preferência
- 1/2 xícara de maionese
- 4 fatias de bacon
- 4 ovos
- 2 tomates cortados em rodelas
- 4 folhas de alface
- 4 fatias de presunto
- quatro fatias de queijo muçarela
- 4 fatias de queijo lanche
Modo de preparo
- Bater os bifes (os pedaços precisam ser fininhos) e temperá-los.
- Abrir os pães e tostá-los.
- Em uma chapa de ferro (ou uma frigideira de fundo grosso), em fogo alto, dourar o bacon e grelhar os bifes, até o ponto desejado.
- Em outra frigideira, fritar os ovos, deixando as gemas um pouco cruas.
- Colocar o bacon, o presunto e os queijos sobre os bifes ainda na chapa. Colocar o ovo sobre os queijos, para derretê-los.
- Passar a maionese nos pães, colocar alface, tomate e, por fim, os bifes.
E bom apetite!
Guacamole
Entre as dicas de comidas típicas que eu estou listando neste post, a guacamole certamente é a mais versátil. Isso porque essa comida típica mexicana pode ser consumida de várias formas, não só combinada com nachos, burritos ou tacos. Uma das formas que a gente mais consome guacamole aqui em casa é em wraps de frango grelhado temperado com páprica. Mas a guacamole pode fazer parte de uma salada ou um até de um hambúrguer. Vai da sua criatividade.
A minha guacamole
No início, eu fazia guacamole seguindo receitas de outras pessoas. Mas, depois de muita guacamole feita e servida, eu passei a essa comida típica do meu jeito. Mantenho todos os ingredientes básicos, mas vario as quantidades. Pra dizer a verdade, a minha guacamole eu faço meio no olhômetro mesmo.
Para preparar a guacamole, eu uso dois avocados (aqueles abacates pequenos, de casca mais escura), um tomate picado, uma cebola pequena picada, e limão, coentro, sal e pimenta do reino a gosto. Mas, se preferir mais picante, pode usar pimenta dedo-de-moça também.
Os avocados não podem estar muito maduros, já escurecidos por dentro. Abro as frutas e retiro a polpa, amassando com o garfo mesmo, para a guacamole ficar mais pedaçudinha. Misturo o tomate e a cebola, e tempero com sal e pimenta. Misturo o coentro (eu AMO coentro, então a minha medida é generosa) e depois o limão. A quantidade de limão depende do seu gosto – eu geralmente o suco de meio limão.
Pronto! Feita a guacamole, sirva imediatamente e, de preferência, não deixe sobrar. O melhor é sempre comer a guacamole fresquinha. Mas, se sobrar, pode guardar de um dia para o outro (no máximo) na geladeira – pode ser que fique com uma cor mais escura, mas isso é o normal de qualquer abacate, não vai afetar o gosto.
Spaghetti alla carbonara
A carbonara é certamente uma das comidas típicas italianas mais populares no mundo. Mas, fora da Itália, poucos sabem fazer uma carbonara tipicamente italiana. Aquela só com pancetta, ovos e um bom queijo. Aquela que não leva creme algum, mas cujo molho é feito somente com as gemas do ovo. Confesso que eu mesma não tenho toda essa técnica. Mas eu sigo tentando fazer a carbonara perfeita (ou quase isso).
A receita a seguir não é minha, mas de um livro de receitas de comida romana que eu trouxe da Itália (deu pra perceber que um dos meus souvenirs de viagem preferido é trazer livros de receitas dos lugares que eu visito, né? Mas em outro post eu conto isso melhor pra vocês…). Pra completar a receita, eu acrescentei algumas dicas de outros livros de culinária italiana.
Ingredientes para seis pessoas
- 700g de spaghetti ou rigatoni (se preferir massa curta)
- 150g de guanciale (bochecha de porco curada) ou pancetta (barriga de porco curada), cortada em cubos (aqui no Brasil, pode fazer com o bacon comum mesmo, que é mais fácil de encontrar)
- 2 colheres de sopa de azeite
- 100 a 150g de queijo pecorino ou parmiggiano ralado
- 6 ovos inteiros
- sal e pimenta a gosto
Modo de preparo
Ferva a água para cozimento da massa. Quando a água ferver, acrescente sal, em quantidade suficiente para deixar a água “um pouco menos salgada que a água do mar”. Não acrescente óleo na água, pois dificulta a aderência do molho à massa.
Enquanto você cozinha a massa, em uma tigela grande, bata os ovos com o sal, a pimenta e o queijo, evitando que fiquem grumos. Depois, em uma panela, acrescente o óleo e refogue o bacon, até que fique macio (não deixe torrar). Quando a massa estiver al dente, escorra-a e jogue na panela do bacon, retirando-a do fogo. Depois coloque a massa com o bacon na tigela em que você tem a mistura de ovos e queijo. Mexa com cuidado e sirva imediatamente.
Você também pode fazer o contrário, colocando a mistura de ovos e queijo na panela da massa e do bacon. Mas faça isso fora do fogo, para que o ovo cozinhe sem solidificar – deve ficar um molhinho fino, sem pedacinhos de ovo cozido. Se for necessário, acrescente um pouco de água da massa, para não ressecar (você pode separar um pouco da água da massa antes de escorrê-la).
Pra encerrar as dicas de comidas típicas
Há quem diga que não há um jeito certo de se fazer uma receita. No caso de comidas típicas, eu acho que tem, e é seguindo a receita original do prato. Mas isso não quer dizer que fazer uma comida típica de forma diferente da original seja errado. De jeito nenhum. Aliás, uma das coisas mais legais de cozinhar é criar as suas próprias versões das receitas.
Então, se você quer tentar fazer as receitas originais das comidas típicas, vá em frente. Como eu disse, é uma boa forma de viajar sem sair de casa. Mas, se você quiser modificar alguma coisa e fazer a sua versão, vá em frente também. O importante é você comer bem e se divertir na cozinha! Só depois volte aqui pra contar como ficou, combinado? 😉
Qual é a sua comida típica preferida? Tem alguma receita de comida típica que você faz e todo mundo gosta? Clica no botão abaixo e conta pra gente! Eu vou adorar publicar a sua dica aqui no blog!