Este é um post pra quem gosta de arte e ainda não está podendo viajar por aí. Além de ler livros e ver filmes sobre viagem, o que todo mundo pode fazer para amenizar a frustração de não poder viajar no momento é visitar alguns lugares virtualmente. Como a Galleria degli Uffizi, em Florença, na Itália.
E aí? Quer viajar sem sair de casa? Então segue rolando a página, que eu vou te guiar pelas principais obras que estão na Uffizi. Assim, além de poder viajar sem sair de casa e conhecer importantes obras de arte, você já vai saber onde encontrar os tesouros da galeria quando puder visitá-la pessoalmente.
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A Galleria degli Uffizi
O prédio, desenhado por Giorgio Vasari, foi construído entre 1560 e 1580, e é a principal galeria de arte de Florença. Inicialmente, o prédio abrigava escritórios administrativos e jurídicos do Município. Aliás, Uffizi, em italiano, quer justamente dizer escritórios.
A galeria é composta por uma vasta coleção de obras de arte tanto de pintores italianos, quanto de artistas estrangeiros. Além disso, a família Médici, governantes da cidade, foi de grande importância para a galeria. A família não só era mecenas de vários dos artistas lá expostos (inclusive Michelangelo), mas também foi fornecedora de inúmeras obras de arte. Isso porque, quando o último membro dos Médici morreu, em 1743, ele deixou a enorme coleção de arte da família para a cidade de Florença, com a condição de que ela nunca saísse de lá.
Cinco anos depois da construção dos uffizi, Vasari ainda construiu o Corridoio Vasariano, ligando a Galleria degli Uffizi ao Palazzo Pitti, nova residência dos Médici, passando por cima da Ponte Vecchio e desembocando no Giardino di Boboli (que fica nos fundos do Palazzo Pitti).
O corredor cria uma relação urbana única no mundo, porque liga, em um único percurso, o centro nevrálgico da cidade (a Uffizi e a Pizza della Signoria, onde fica o Palazzo Vecchio, centro administrativo municipal e antiga residência dos Médici), o rio Arno (que corta a cidade), a Ponte Vecchio (a ponte mais antiga de Florença) e o centro do poder dos Médici (o Palazzo Pitti). Ele foi construído para que os Médici e altos integrantes da corte pudessem se deslocar sem se misturar com o povão.
Visitando a Galleria degli Uffizi sem sair de casa
O percurso da visita à Galleria degli Uffizi é organizado por um critério histórico-cronológico, com salas separadas por períodos e pintores. São dois andares de salas em formato de U – os corredores, por si só, já são belíssimos. A coleção principal fica no piso superior, mas o piso inferior também tem obras interessantíssimas.
O tour começa pela ala esquerda do prédio, onde vão estar as obras florentinas da Idade Média até o Renascimento. Na ala direita, você vai encontrar as obras do Renascimento romano e veneziano, além das pertencentes ao período barroco, seguinte à época renascentista. Eventualmente, essa organização das obras pode sofrer algumas alterações, já que as salas e obras podem estar em restauração.
Antes de continuar, um esclarecimento: para evitar qualquer utilização indevida de imagens, deixei o acesso às obras por meio de links que direcionam para o site oficial da galeria. Basta clicar nos nomes delas. Já as fotos de obras inseridas neste post fazem parte do meu acervo pessoal.
Idade Média
As primeiras salas do circuito da Galleria degli Uffizi (iniciando pela sala 2, à esquerda da escada de acesso), são dedicadas à arte medieval.
Neste período, os artistas inicialmente não sabiam muito bem pintar uma imagem em 3D numa superfície em 2D. Ou seja, eles não conseguiam dar à imagem aquela profundidade que torna a figura retratada mais “viva”. As obras aqui são muito parecidas, basicamente retratando a imagem de Nossa Senhora com o menino Jesus, tudo rodeado em muito dourado.
Foi Giotto, com a sua Maestà d’Ognissanti, quem revolucionou a arte da época ao pintar a figura da Virgem Maria em 3D. Para comparar, na mesma sala estão obras bidimensionais: a Maestà di Santa Trinita, de Cimabue, e a Madonna col Bambino in trono e angeli de Duccio di Boninsegna (a mais bidimensional das duas). É visível a diferença de profundidade nas imagens – clique nos nomes das obras para ver com seus próprios olhos.
Início do Renascimento florentino
O próximo período do circuito da Galleria degli Uffizi é o início do Renascimento em Florença. Nessa época, alguns artistas passaram a usar a matemática para criar o efeito tridimensional, como ocorreu na Battaglia di San Romano, de Paolo Uccello. O pintor tentou usar imagens em tamanhos maiores e menores pra dar ideia de distância. Mas resultado é uma imagem cheia de desproporções, como o soldado caído no canto inferior direito do quadro, que teria o tamanho de uma criança se estivesse de pé.
O Dittico dei Duchi di Urbino, de Piero della Francesca, é outra obra interessante desta seção. Repare que o duque foi pintado em seu perfil esquerdo, o que não era comum na época. Mas ele havia perdido o olho direito e parte do nariz em um torneio de justa, então o artista teve que dar um jeitinho. Repare também no tom da pele da duquesa, quase albino, provavelmente porque o quadro foi pintado postumamente.
Outra bela obra do período é a Madonna col Bambino e due angeli, de Filippo Lippi, na qual o autor retrata a beleza da Virgem Maria de forma idealizada, mas totalmente humanizada, bem diferente das obras do período medieval.
Por fim, mais duas obras que merecem atenção: Ercole e Anteo e Ercole e l’Idra, de Antonio del Pollaiolo. O artista, diferentemente de Paolo Ucello, estudou anatomia para pintar seus quadros. O que fazia dele um criminoso: na época, dissecar corpos era crime e também pecado, já que se considerava o corpo humano o templo de Deus. Mas Pollaiolo não ligou muito pra isso não…
Auge do Renascimento florentino
Sandro Botticelli
Seguindo ainda pela ala esquerda da galeria, começa a sequência de obras que eu considero as mais bonitas da Uffizi. E, dentre estas, as belíssimas obras de Botticelli são das mais importantes da galeria.
Na obra La Primavera, a Madonna dá lugar à Vênus, em um retorno ao mundo pagão antes de Cristo, no qual as coisas da carne não eram pecaminosas. Outro belíssimo exemplo dessa temática é a obra La nascita di Venere, que é certamente a grande atração da galeria.
O quadro Adorazione dei Magi também vale a sua atenção. E a obra La Calunnia não pode passar batida já que representa o fim do Renascimento florentino, após a morte de Lorenzo di Médici, “O Magnífico”, grande incentivador das artes em Florença. No lugar dele, aparece em Florença o monge Savonarola, pregando contra o “paganismo” da arte renascentista. A obra de Botticelli, então, representa a condenação dessa visão mais humanista e carnal do mundo própria do Renascimento.
Leonardo da Vinci
Seguindo em frente, você vai encontrar uma sala com obras de Leonardo Da Vinci. Há poucos trabalhos dele na Uffizi, e os que estão lá não são dos mais famosos do artista. Mas o incompleto Adorazione dei Magi é uma das minhas obras preferidas da galeria. O quadro chama atenção não só por retratar a aparência das pessoas, mas também suas personalidades e reações.
Além dele, a Uffizi também abriga outra obra do Da Vinci, a Annunciazione, na qual o artista retratou a cena o anúncio do anjo Gabriel à Virgem Maria de forma equilibrada, simétrica e com muita noção de espaço. Se você traçar linhas a partir dos objetos na imagem, vai ver que eles convergem. Por exemplo, traçando linhas a partir dos tijolos da parede da direita, você vai perceber que elas convergem para a montanha ao fundo, que está bem no centro da imagem.
É mais ou menos o que a gente faz hoje na fotografia: enquadrar um cenário a partir das linhas que a imagem forma. E o Leonardo já fazia isso lá no século XV.
Alto Renascimento
A Venere di Urbino, de Tiziano, retrata bem a diferença entre o Renascimento florentino e o veneziano. Nas obras de Botticelli, expoente florentino, a Vênus é retrata de forma pura, quase de outro mundo. Já no quadro do artista veneziano, a deusa toma uma forma bem mais humana, carnal.
Além disso, os artistas florentinos procuravam equilibrar a imagem no posicionamento das figuras à direita e à esquerda. Tiziano, por sua vez, faz isso com as cores: ao olhar o quadro, você pode perceber que metade dele é escura e metade, mais clara, tendo a figura da mulher nua como divisor entre as duas.
E é claro que não podia faltar Michelangelo na coleção da Galleria degli Uffizi, pois o artista, além de florentino, era também meio que um filho adotivo da família Médici, os grandes mecenas da cidade.
Porém, infelizmente, a obra Sacra Famiglia, pintada por Michelangelo para seu amigo Agnolo Doni, é o único quadro acabado do artista. Isso porque, como é sabido, a especialidade de Michelangelo era mesmo a escultura. O Davi, lá na Galleria dall’Accademia de Florença, e a Pietà, que fica na Basilica di San Pietro, no Vaticano, que o digam.
E essa especialidade em moldar corpos humanos foi o que ajudou Michelangelo a pintar uma das obras mais fantásticas e revolucionárias da história da arte: o teto da Capela Sistina.
Por fim, outra obra que vale a sua atenção é a Madonna del Cardellino, de Raffaello Sanzio, na qual ele retrata de forma belíssima a Virgem Maria com os meninos Jesus e João Batista. Com a morte de Raffaello, termina também o Renascimento florentino.
Finalizando o tour
O circuito da Galleria degli Uffizi termina no piso inferior, uma ala mais nova da galeria, onde você vai encontrar obras de artistas mais contemporâneos, e artistas estrangeiros, como Rembrandt. Além disso, não deixe de conferir a sala destinada a Caravaggio, que tem obras bem interessantes também.
Outra coisa: durante o seu trajeto pelo segundo andar da galeria (o principal), olhe para o teto dos corredores e observe os belos afrescos.
E, se não estiver em restauro, faça o tour pelo Corridoio Vasariano, aquela passagem que liga o Palazzo della Signoria e o Palazzo Pitti, passando por cima da Ponte Vecchio. A estrutura está em obras desde 2016 e tem previsão de reabertura em 2022.
O que você ainda precisa saber sobre a Galleria degli Uffizi
A Galleria degli Uffizi fica aberta de terça a domingo, atualmente das 8h30 às 18h30. O ingresso custa 20 euros e pode ser reservado antecipadamente, pelo site oficial da galeria. O ingresso antecipado é bem recomendável, já que geralmente há fila para entrar na Uffizi. Na nossa última visita, acabei não reservando, mas, como chegamos cedinho, a entrada foi até rápida.
Lá na galeria há também um café, que eu ainda não experimentei, mas que pode servir para aquele descansinho no meio da peregrinação pelas obras.
E, por fim, lembre-se que a pandemia da covid-19 ainda existe. Por isso, viajantes saídos do Brasil estão impedidos de entrar na Itália, salvo se forem cidadãos italianos ou da UE e seus familiares, ou se tiverem autorização de residência no país. E, mesmo para viajantes saídos de outros países (Uruguai, por exemplo), é exigido isolamento de 14 dias na chegada.
Então, a não ser que você esteja em algum país com trânsito livre para a Itália, por ora, o seu único jeito de conhecer a Galleria degli Uffizi é virtualmente.
E aí, curtiu o tour pelas principais obras da Galleria degli Uffizi? Deixa teu comentário!
Fontes utilizadas
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